domingo, 23 de dezembro de 2012

OS ANJOS ESTÃO ENTRE NÓS


                   OS ANJOS ESTÃO ENTRE NÓS

 

            Lá se vão quase 60 anos.Era véspera de natal.Na época passávamos por grandes dificuldades  financeiras.O papai estava muito doente.A criança pobre daquela época aprendia desde cedo, que o Papai Noel só existia entre os afortunados.As vezes ganhávamos a famosa roupa das festas e sempre a estreávamos na missa do galo,que começava precisamente por volta da meia noite.Como éramos muito católicos,ir a igreja era a nossa maior alegria,precisamente em uma ocasião como essa.O papai estava praticamente desenganado pelos médicos.A sua situação era muito grave,a mamãe vivia chorando pelos cantos o que nos deixava bastantes tristes.Nesse dia ela não queria ir a missa,preferia ficar ao lado do marido,pois de hora em hora ele tomava algumas gotas de remédio,para aliviar as dores, e nós ainda éramos muito pequenos para ficar incubidos de tal responsabilidade.Ela mandara o meu irmão mais velho avisar a minha tia para que ela passasse por nossa casa casa para poder levarmos a igreja, que não era tão longe.O papai ao tomar conhecimento dissera:

        - Ora Josefa! Não! Você tem que ir assistir a missa com os meninos,pode deixar que eu faço isso sozinho

           - Não Dé! Você pode adormecer e passar a hora do remédio.Pode deixar eu fico com você.As crianças vão com a sua irmã.

          -  Não Josefa!Eu quero que você vá.Não se preocupe eu não vou dormir

             Eu que escutava toda a conversa,disse para os dois que eu ficaria com o papai e quando chegasse a meia noite eu acordaria ele se tivesse dormindo, e dava o remédio.Os dois a principio disseram não,mas aceitaram com relutância quando eu disse que as orações da mamãe para o Menino Jesus seria de maior importância do que a minha.Depois de um longo silencio os dois concordaram.Naquela época em quase todas as casas, tinham aqueles relógios de parede que batiam de hora em hora, e eles sempre ao meio dia ou a meia noite, alem de soarem as 12 badaladas, ainda tocavam uma espécie de carrilhão,portanto seria muito difícil não perceber as horas.E assim eu vi a mamãe ir para a igreja com meus irmão e eu fiquei com o papai.Lá fora havia muitas pessoas sentadas nas calçadas conversando e comemorando o natal com um vinho barato acompanhado com um queijo coalho.Era assim naqueles idos de 1950/60.Eu tinha nove anos.

              Fiquei sentado ao lado do papai conversando.- Como ele sabia contar uma boa estória!

              E assim o relógio bateu a meia noite.Ele me abraçou  e me desejou com lagrimas nos olhos: - Feliz Natal! Meu filho! – E eu respondi o abraçando: - Feliz Natal! Papai! – E ali choramos juntos, enquanto ouvíamos lá fora o foguetório e os vivas. Eu olhou para mim e disse; _ Filho! Deixe-me descansar um pouco.Esse remédio me dá sono.Vá lá fora e vá desejar aos vizinhos um feliz natal também.

               Ao chegar na calçada eu senti-me terrivelmente só.Fui de porta em porta saudar nossos vizinhos que se comoviam ao perguntar pela a saúde do papai e quando o medico permitisse vizitas eles iriam vê-lo.O Nossos vizinhos da direita era um casal de crentes que tinham duas filhas.Desde cedo eles estavam recebendo amigos da sua igreja.Eram muito bons e estavam preocupados com a doença do papai e nunca cansavam de pedir noticia e se prontificarem para atender qualquer favor nós precisássemos.

          O batente da nossa calçada era muito alto,principalmente para um garoto franzino de nove anos. E sentei-me na borda e fiquei ali balançando as pernas e acompanhando a trajetória dos foguetes que subiam e de vez em quando eu corria para apanhar a flecha,esta era usada para fazer arraia o que hoje chamam de pipa.Em pouco tempo eu já tinha um bocado delas,afinal a concorrência praticamente não existia.Todos tinham ido para a igreja.

           E ali sentado vi alguém vir na minha direção.Era um homem.Mas parecia diferentre dos demais que eu já tinha visto.Vestia uma roupa muito branca e reluzente.A sua pele dava a impressão que brilhava.O seu rosto demonstrava uma serenidade que nunca tinha observado em ninguém.A principio eu tive muito medo e fiz menção de me levantar e correr para dentro de casa.Foi aí que recebi a primeira mensagem telepática da minha vida.Era como se ele falasse dentro da minha cabeça. Ele pediu que eu não tivesse medo e foi se aproximando devagar até sentar-se ao meu lado.Daí o meu medo se foi e passamos conversar sobre muitas coisas.Ele sabia de tudo a meu respeito.A escola,amigos e até o meu comportamento em casa e sobre isso eu recebi alguns conselhos,como respeitar as coisas de Deus,meu pai e minha mãe.Não me lembro de muita coisa,mas de uma eu lembro muito bem,quando ele me disse que o papai ficaria bom muito em breve, e que ele veio justamente para dizer essa boa nova para mim.Perguntei quem era ele e a sua resposta foi: - Um dia você saberá quem sou eu.Eu voltarei a encontrá-lo. E assim se despediu e como em piscar de olhos, eu não o vi mais.

               Demorou mais um pouco e a mamãe chegou.Cumprimentou a todos e quando já ia entrando, a dona Maria a vizinha falou:

               - Dona Josefa! Olha o Litinho (esse era o meu apelido de infância) se portou de um modo bem interessante!

                - Ele se portou mal? - Perguntou preocupada

                 - Ora não de maneira mal educada.Ao contrario.Ele é muito atencioso,falou conosco,brincou um pouco e depois foi sentar-se com canelinhas dele balançando na calçada.O que chamou a atenção nossa foi que ele começou a falar sozinho e a gesticular,como se tivesse falando com uma pessoa invisível.Nós ficamos curiosos e eu mandei a Ana saber o que ele falava e ela disse que não entendia nada,parecia que ele falava uma língua estranha.

                 - Não Dona Maria! Eu falava com um homem e ele sentou-se bem aqui! – Disse eu mostrando o lugar

                  - E como ninguém aqui viu esse homem?Disse o Sr José o marido

                   A mamãe pediu desculpas pela a minha afirmação contraria ás pessoas mais velhas e entramos.Ela foi até o papai e ele estava dormindo sossegado.e depois me chamou

                  - Meu filho! Você deu o remédio na hora certa e contou as gotas certinhas?

                  - Sim mamãe!

                   - Agora meu filho! Venha cá! Que estória é essa de homem invisível? Você desmentiu as pessoas mais velhas meu filho?

            - Não mamãe! Mas o que eu disse foi verdade.Eu estava sentado na calçada e de repente ele chegou bem na minha frente e começou a falar bem dentro aqui da minha cabeça,para que eu não tivesse medo dele. –  Meus irmãos começaram a rir

               - Sim Filho! Continue.

               - Aí ele ficou conversando comigo direito, e eu gostei muito de falar com ele e das coisas que ele me falou.

               - E o que ele disse pra você filho! – Perguntou minha mãe muito apreensiva.

               - Ah! Muita coisa boa! Mas a melhor foi quando ele disse que a gente não se preocupasse que o papai logo ficará bom

                - Mas filho! Afinal como era ele?

                 - Mamãe ele parecia brilhar.As suas roupas eram bem brancas e brilhavam muito.Mamãe! O que mais prestei atenção, era que ele estava descalço e os seus pés não tocavam no chão quando ele andava. Nunca vi uma pessoa igual a ele,só com aqueles anjos do livro do catecismo eram parecidos,mas ele era muito mais formoso,como diz o padre.

                  Minha mãe me abraçou e depois a todos nós e começou a chorar, e começamos também a nos derramar em lagrimas,até a nossa irmãzinha de um ano chorou também.

                 - Mamãe! Quem a senhora acha quem era esse homem que conversou comigo? – perguntei um pouco assustado

                  - Filho! Não tenha medo dele, se você voltar a vê-lo  um dia.Ele é um mensageiro de Deus filho,um anjo e gloria a deus nas alturas,hoje o nosso lar foi visitado por um ser de luz.Vamos ver o papai,parece que ele acordou com choradeira. – Chegamos no quarto chorando de felicidade,nos jogamos na cama felizes enquanto a mamãe contava para ele a boa nova. E ele comovido disse: - Eu sabia! Eu sabia que hoje seria um dia bem diferente.Graças a Deus eu ficarei bom.

                 Duas semanas depois, contrariando todas as previsões medicas, o meu pai já estava trabalhando na sua barbearia.Aprendi que os milagres existem,os anjos estão entre nós, são mensageiros divinos que nos ajudam e nos guiam por toda a nossa vida. Basta crermos  em Deus que eles estarão presentes ao nosso lado.FELIZ NATAL

                  

 

 

 

 

Um comentário:

  1. Estou doente e internado com tuberculose na Ucrânia. Tudo parece ter perdido o sentido mas anjos existem. Obrigado de coração . Спасибо , скоро мой ангел будет.

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