quinta-feira, 11 de abril de 2013

CHEVROLET. O CRAQUE DO FUTEBOL "PÉ RAPADO" (SEM CHUTEIRAS)


                              Chevrolet o craque do futebol “pé rapado” (sem chuteiras)

 

           Alguns amigos do Bairro Santo Antônio em Aracaju, pediram para que eu falasse mais sobre o nosso bairro e principalmente sobre alguns tipos interessantes que ficaram na sua história.

           Pelo lado do futebol, eu vou comentar sobre uma família composta de craques. O personagem central, até hoje eu não sei o seu nome completo, mas todos o conheciam por Chevrolet. Colocaram esse apelido, porque ele ainda criança levara uma queda e teve o nariz amassado, e como o rosto tinha um formato quadrado, acharam que ele parecia com a frente do caminhão dessa marca. O seu pai o Sr. Wilson, fora um excelente jogador  chegando a participar do campeonato carioca defendo as cores do Bonsucesso. Ele tinha um tio que se chamava Argemiro que jogou em alguns clubes de Aracaju. Segundo a crônica da época, uma semana após o Leônidas da Silva fazer o primeiro gol de bicicleta da historia do futebol, ele faria o segundo pelo Palestra, que na época era um dos melhores times do futebol amador de Sergipe.

           Todos os seus irmãos jogaram futebol. O que mais teve sucesso foi Washington, que jogou no  Cotinguiba  e Lagarto, clubes profissionais de Sergipe. Morreu prematuramente, com 40 anos, durante uma partida de quarentões, sentiu-se mal e teve um ataque fulminante do coração. Os demais, Ninha, Gilmar e Wilson, jogaram em equipes amadores de futebol  de várzea nas décadas de 60 e 70.Chevrolet foi o Pelé do futebol sem chuteiras, Sempre jogava com a 10.Driblava como ninguém, batia faltas e pênaltis com maestria e chutava forte com os dois pés. Certa feita ele jogando pelo Tabajara um time de pé rapado do bairro, jogávamos  uma partida amistosa na Taiçoca de Dentro, um povoado do município de Nossa Senhora do Socorro. O primeiro quadro ganhava pelo marcador de 4X1 do time local. Após uns 10 pênaltis não marcados a favor do Tabajara, faltando 3 minutos, o juiz, que quase sempre era o chefe político do povoado, nesses amistosos, resolveu marcar um, isso só porque o zagueiro em um voo espetacular defendeu a bola que ia entrando no canto da trave, aí devido a derrota já decretada ele não teve duvidas e marcou a penalidade máxima. O encarregado da cobrança foi Chevrolet.

               No futebol de várzea quando há um pênalti, a torcida toda corre para trás do gol. Uns para incentivar o goleiro e outros o batedor. Chevrolet ajeita a bola na marca da cal e espera o apito do juiz, e assim que ouviu a ordem, ele corre gingando o corpo na direção da bola, dá uma paradinha rápida e pende o corpo para o lado esquerdo e dá um tapa na bola com categoria para  o canto direito, O pobre do goleiro já beirando a casa dos 40 anos se esborrachou no campo oposto ao da bola, e atônito, via a “gorduchinha” calmamente entrando na sua meta. Foi um deus nos acuda. O pobre era vaiado e zombado pela turba de moleques. Não teve mais jogo. Deslocar goleiro naquela época ,era novidade, só um verdadeiro craque sabia fazer, e ali naquele povoado sem energia, que tinha como a única comunicação o radio movido a bateria de caminhão, ou no ultimo caso Ir a um cinema de Aracaju assistir o Jornal Canal 100 que passava jogos do campeonatos carioca e paulista e seleção brasileira. Era um caso muito raro e até inacreditável. O goleiro partiu pra cima de Chevrolet dizendo:  - Você me desmoralizou! Sou pai de família! Precisava você fazer o que fez? Chegou logo a turma do “deixa disso” e tentaram convencer ao infeliz que aquilo era malicia do futebol. Chevrolet que estava preocupado com a sua “saúde”, aproximou-se para contornar as coisas, que aos poucos foram se acalmando. Colocou-se a disposição de ajudá-lo a não mais cometer o erro e foi com ele até a “fatídica” trave e ali diante de todos ele explicou que quando o batedor pende o corpo para um lado, dá a impressão ao goleiro que a bola vai para o mesmo canto e isso dá um espaço de tempo para o cobrador sem dificuldade empurrar a bola para o canto oposto. O sujeito agradecido o abraçou e Chevrolet que ainda teve a paciência de bater uns 10 pênaltis para alguns torcedores.

                 Depois desses jogos sempre haviam os comes e bebes de confraternização entre jogadores, torcedores e dirigentes das equipes. O peixe como era de natural era o mais servido, devido a proximidade do Rio Cotinguiba,  carneiro assado e diversos tira gostos trazidos pelo o povo, a cachaça limpa e da boa rolava, o delicioso vinho de jenipapo, presentes para a diretoria visitante, macaxeira, inhame e fruta para todo mundo trazer principalmente a manga que havia em abundancia. A brincadeira se prolongavam até as nove horas, depois era pular para a carroceria do caminhão e voltar para Aracaju, Ali em cima do veículo todos cantavam alegres até a chegada na sede do clube, geralmente as musicas eram participativas, como “quebra quebra gobiraba” onde cada um tirava um verso, ou então as que tiravam “onda” com o motorista.. Na sede ainda esperava um ligeiro “comes e bebes” até as dez no máximo. Afinal a segunda feira era dia de trabalho e escola. Assim era o futebol nos domingos na várzea. Antes de tudo uma festa de confraternização. Até hoje tenho algumas amizades construídas  naqueles bons tempos de minha vida

             Chevrolet foi um ídolo na sua época. A sua fama espalhou-se nos bairros de Aracaju e nas cidades circunvizinhas, chegou a ganhar alguns trocados para jogar nesses times, a sua presença era exigida em cidades como Nossa Senhora do Socorro, Laranjeiras, São  Cristóvão,  Itaporanga entre outras.

              Para quem leu o texto até agora, posso apostar que tem uma duvida e uma pergunta a fazer: - Ora! Se esse cara era tão bom porque ele nunca jogou em um clube da elite na época? A resposta era uma espécie de defeito que fazia com que ele não calçasse chuteiras. Ele não tinha cava nos pés e os seus dedos eram espalhados. Ele só andava descalço quando criança e com isso desenvolveu essa anomalia, coisa que os seus irmãos não desenvolveram, pois também andavam descalços, como todos nós ,até o tamanco de madeira era caro e nós só usávamos para ir para escola ou a noite quando trocava a roupa do dia. Escola foi um “luxo” que infelizmente nem ele e nem os irmãos podiam frequentar, pois eram muito pobres e só mais tarde aprenderam a ler e escrever. Por esse motivo ele não aguentava calçar chuteiras, os pés doíam bastante. Enfim era ele colocar um par de chuteiras e acabava ali o seu sonho de ser um craque como fora O Wilson seu pai e o tio Argemiro.

          Eu acompanhei toda a sua trajetória. Ele é mais velho do eu uns cinco anos,hoje deve estar beirando a casa dos 70 anos. Eu sempre gostei de jogar no gol. Aprendi jogando contra ele, recebendo gol incríveis a me tornar mais técnico. Algumas vezes ele perdia pra mim no jogo de marreta. Mareta é um jogo, em que a bola é feita de uma meia velha e arredondada com molambos por dentro. Jogava-se em duplas ou individualmente, para o arremate jogava a bola para o alto e chutava ante de cair no chão, o adversário podia defende-la além do limite do gol e chutava dali mesmo, e o gol era inevitável. O que nós mais gostávamos era o som da pancada produzido no contato do pé com a bola na ocasião do arremate. A minha vantagem era que eu arrematava bem e defendia do mesmo modo ,enquanto  ele apenas chutava bem mais era um goleiro sem muita técnica, enquanto a minha parada com o Ninha seu irmão era muito difícil pois o mesmo era também um ótimo arremessador e goleiro, apesar dele  jogar na posição de ponteiro direito, o que aliás, driblava e cruzava na cabeça do centro avante, hoje coisa rara nesse chamado futebol moderno. O mas importante desse jogo era o jogador segurar a bola, se a deixasse cair o adversário já estava em cima pera pegá-la e arremessar para o gol dali mesmo. Se o goleiro a segurasse ele tinha o direito de dar dois passos para frente e arremessar rapidamente para o gol adversário e muitas vezes pegando o adversário ainda se recompondo, aí era fácil fazer o gol. Se eu fosse técnico de futebol e faria um dia de treinamento com marretas entre goleiro e atacante; Porque o que goleiro hoje, solta bola e atacante chuta tão mal? Hoje nem sabem dar um arremate, e ganham milhões, está uma verdadeira  vergonha. Com a saída do Nunes de cenário da bola, acabou o centro avante cabeceador.Pelé,Dario,Jardel,Leivinha,Flavio,Escurinho,Baltazar,Washington,Serginho Chulapa. Figurando nessa lista, com méritos teríamos o Thomás o cabecinha de ouro, Fernando, Mirobaldo, Ruiter, Cipó, Angiolete e tantos outros que merecem estar nessa lista. O Santa Cruz  de Estância que foi penta campeão estadual e o seu forte era o jogo aéreo. Naquele tempo um escanteio, com um bom batedor e um bom cabeceador era  gol em 80% desses lances. Hoje, tanto na Europa como na América do Sul me apontem um cabeceador ou um goleiro que encaixe ema bola ou que faça uma ponte e traga a bola presa entre as mãos e o peito? Saudades do Barbosa, Pompéia, o maior ídolo do Pelé entre todos os goleiros que ele já enfrentou

           O futebol de várzea foi sem duvida a poesia e por não dizer, a verdadeira epopeia do futebol brasileiro e dela que ainda hoje sai os maiores e verdadeiros craques do futebol brasileiro foi dela que surgiu o Rei do Futebol o Edison Arantes do Nascimento, o Atleta do Século. O Inimitável Rei Pelé. Ele surgiu daqueles campinhos de Três Corações, cidade imortalizada por ser o berço do maior jogador de futebol de todos os tempos.

            Não sei por onde anda Chevrolet. Sei que ele é borracheiro, outros me falaram em alcoolismo. Estou tentando saber por onde ele anda e se ainda é vivo e assim que eu souber farei um aditivo nesse texto.

            O Bairro santo Antônio  Foi um grande celeiro de craques na época. Pequenos times de pelada fizeram muito sucesso naqueles tempos, como também surgiram grandes times do nosso futebol amador. Quem não lembra do campo do Vila Isabel nas tarde de domingo? Todos os espaços eram completamente tomados pelo publico, ao lado a criançada que não conseguia ver o jogo batia pelada no Campo da Lavanderia, era assim chamado porque ficava ao lado de uma lavanderia publica na qual tinha um poço abastecedor, geralmente assim que tínhamos sede, corríamos para lá e saciávamos a sede em grandes goladas de balde, a única proibição das lavadeiras era o banho. Hoje infelizmente o campo do Vila Isabel deu ligar a um condomínio de prédios populares, encerrando assim um período de ouro do futebol de várzea e da historia do futebol amador dos Bairros 18 do Forte, Cidade Nova, Santo Antônio e adjacências.

           

     C

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